"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A Moça na Janela



Vejo-te sempre curvada à janela
Com o olhar perdido em alto mar
Tal se alguém acenasse a ti chamar
Ou se, aos astros, te fosses, em sentinela.

Teus negros cabelos mesclam-se à noite
Como fora os grafites de um poeta
Que espera pelo tempo, na ampulheta 
Da vida, a quebrar os seus limites.

E ficas por tão indeterminado
Tempo, largando aos céus os teus pensares
Ao anjo que levará os teus sentires
Ao grande amor por ti abençoado.

 Nalgum lugar, sob os olhos da noite,
Olhos que vêem através do silêncio,
Vão-se, os versos ao poeta, em balbucio
Das marés cansadas pelo pernoite.

De súbito, uma estrela resplende...
Os teus olhos, como magia, sorriem;
O poeta, a que os versos se recriem,
À chama ardente do amor, ele acende.

(Sonya Azevedo)

sábado, 2 de julho de 2016

A Carta


Imagino-te com as tuas alvas asas
Cortando o azul do sul ao norte...
Não pranteias ao vento que vem forte,
Nem recobres o negro que desgasta...

Trazes cheiros dos antigos amores,
Os sorrisos das mais ternas lembranças;
Vens com os adeuses, co' as esperanças,
Trazes as alegrias, também as dores...

Trazes as saudades do além cais,
Da imensa distância que encobre os mares...
Trazes à alma os sacros calmares,
E, aos sonhos, a barca que atracas.

E, ao tempo? Ah! A esse também te curvas,
Amarelas, craquelas... e vozeias
Nas trêmulas mãos de quem te anseia
A aclarar dos olhos, as águas turvas...

Pousando no destino pactário,
Despe-se da gasta veste selada,
Liberta as palavras, a papelada,
E te entregas ao destinatário.

(Sonya Azevedo)


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