"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

sábado, 2 de julho de 2016

A Carta


Imagino-te com as tuas alvas asas
Cortando o azul do sul ao norte...
Não pranteias ao vento que vem forte,
Nem recobres o negro que desgasta...

Trazes cheiros dos antigos amores,
Os sorrisos das mais ternas lembranças;
Vens com os adeuses, co' as esperanças,
Trazes as alegrias, também as dores...

Trazes as saudades do além cais,
Da imensa distância que encobre os mares...
Trazes à alma os sacros calmares,
E, aos sonhos, a barca que atracas.

E, ao tempo? Ah! A esse também te curvas,
Amarelas, craquelas... e vozeias
Nas trêmulas mãos de quem te anseia
A aclarar dos olhos, as águas turvas...

Pousando no destino pactário,
Despe-se da gasta veste selada,
Liberta as palavras, a papelada,
E te entregas ao destinatário.

(Sonya Azevedo)


My Visitors