"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

domingo, 30 de julho de 2017

Luar na Mata


Co'o sol posto se inicia o grão coral.
Distinto do coral do amanhecer,
Aves silenciam para conceber
À noite, sua magnitude, seu astral.

Nos brejos, o coaxar da saparia...
Pirilampos querendo disputar
Nas matas co' o douro céu estrelar,
O claror por detrás das serranias.

Tão perfeita tal giro d'um compasso,
Desponta sua majestade celeste
Entre os morros e as ramas d'um cipreste,
E na mudez d'um vento já tão lasso.

Mágica e livre tal um navegante,
Singra majestosa em mar d'estrelas
Perdoa co'o claror as tantas querelas
E une em sonhos e amor, os amantes.

E esplendorosa navega silente
Venerada pelo céu de setembro,
Na pena do poeta e se bem me lembro,
No riso matreiro do Onipotente.

(Sonya Azevedo)



Pena de Passarinho



A poesia me vem tal pena no ar
Bailando em calma que a brisa requer,
Solta da asa de um pássaro qualquer,
Em raras notas de noite sem luar.

Nos chiares das cigarras, a canção
Do choro do sax que em mi’ alma penetra.
Os versos se fazem no toar das letras,
Movidas p’lo pulsar do coração.

Tal o vaivém das ondas do mar ou
Quem sabe, das estrelas, o piscar,
Ela me diz tudo do verbo amar,
Sem importar onde a solidão parou.

Traz-me os verdes olhos da saudade
Que em rasos d’água banham-se em tristeza.
Fala-me também das tantas belezas
Da vida e do que é felicidade.

Leve, tão leve tal o sentir-se em paz,
Uma rajada de brisa a leva,
Voa lenta para que eu a escreva
E, ao ir-se, deixa uma pluma pra trás.

(Sonya Azevedo)

domingo, 16 de julho de 2017

Alma Navegante




E por esse tempo que já se vai,
Não houve um grito ou urro sequer,
Mesmo com meu peito a se romper
Por esse pranto mudo que não sai.

Do chão dos gris cascalhos que pisei,
Das flores secas que não perfumam mais,
Dos tristes acasos que o mar leva jamais,
Com os pés rotos, sangrados, não recuei,

Segui avante. E, brava, achem-me os anos,
Destemida e de fronte erguida,
Sabendo-me, sempre, dona da mi'a vida.

Se, porventura, mais enganos houver,
Calarei os gritos sem perder a calma,
Sem largar o leme que conduz a mi'a alma.

(Sonya Azevedo)


Minha Bandeira



Minha Bandeira deixa-se escorrer
Em mastro deslizante de pau de sebo.
Soltam-se as estrelas e eu nem percebo
Que o infindo se perdeu no entrecorrer.

A lama encobre os restos do poder.
Venda, em olhos da Justiça, é placebo,
Não a cega, refulge a luz de Febo
E perdoa a quem mais lhe oferecer.

Ordem e progresso diluído no ouro
Saqueado da esperança de milhões
Que creram e, por crerem, foram traídos.

A ave, pelos verdes, traz o agouro,
Na voz e no coração dos milhões,
Que urge ver preso o Rei Caído.

(Sonya Azevedo)


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