"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Êxtase



São tantas as cicatrizes, as marcas,
Impressas na prata donde me vejo
Refletida... Ah! Mas ainda me cortejo
E sigo os sonhos que se vão nas barcas.

Hoje, vou-me pela vida sem pressa...
Abraço o tempo e a ele me alio.
Perdoar o passado é o mor desafio
Já que o futuro é somente promessa.

E sinto ainda o êxtase pela vida!
Abraço o mundo e os nacos de vida
Que ainda me sobram dos dias que me restam...

E como um poeta que jamais se olvida
De sua cria e em si a traz sorvida,
Brindo a esta vida que os anos atestam!

Sonya Azevedo


Amante



Ah! Rio-me pelos ventos dançarinos
Quando me vens em total transparência,
Quando teu corpo dança a mi'a cadência
Do ondear dos meus rios cristalinos.

Vens-me possuído deste olhar felino
A saciar-me a sede, a minha carência.
No teu corpo, perco-me da decência
E visto-me desse amor clandestino!

Os olhos da noite fazem-se cegos...
Mas as horas te despertam os sinos
Que badalam no leito que te espera.

E a mi'a noite segue sem teus afagos,
O meu peito chora o triste destino
De viver o amor em eterna espera!

Sonya Azevedo

Voos Noturnos



Esses teus olhos,
Doces olhos de mar,
Fazem florescer
Por meus poros,
As gotas de prazer.

Vêm do teu cheiro
Trazido pelas espumas,
Alvas espumas,
Espraiadas
Nas sementes
Da minha libido.

E a noite,
Traz-me o luar
Por testemunha,
Fazendo-me
Com seu pranto,
Um buquê de estrelas...

Pelos enrugados 
Dos cetins,
Lançam-se em voos,
Os nossos corpos
Entrelaçados,
Entre plumas e pétalas,
Em sublime 
Gozo do amor!

Sonya Azevedo

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Asas Desdobradas


Esses pontos brancos
na imensidão azul,
são minhas saudades
que se vão,
tais as gaivotas,
rumo ao sul.

Nessa migração,
vai também meu coração,
 levado,
em algum momento,
por meu pensamento.

E este meu pensar
desliza sobre o tempo
em que asas eu havia
para em teu peito pousar.

Hoje, as penas que voam
são asas desdobradas
que seguem seu rumo
e secam as gotas
 deste meu lembrar.

E essa saudade
segue firme
rumo ao infinito
onde tu,
em estrela,
se pôs a brilhar.

Sonya Azevedo


Talvez



Talvez, uma dúbia conotação...
Indecisa palavra de vaivém
Tais as ondas que desse mar provém
Ou via de acesso de dupla mão...

Dúvida... só faz mal ao coração!
É esperança que foge de alguém...
É futuro que o presente detém
É nó que nos ata o pé e a mão!

Quem me dera ouvir, por fim, um sim
Mais direto, quiçá, u'a negativa...
Sem alternativa, uma decisão.

Serenaria,então, meu coração
Que expõe, em sua face, a lágrima furtiva
Pelo amor e por um talvez sem fim.

Sonya Azevedo


Lua Vadia


Nessa sede que água não sacia
Vertem por meu olhos salsas gotas...
Dos lábios, o afã que não alivia,
No céu, um céu que já se desbota...

Essa lua que se desperta vadia
Traz-me, de ti, lembranças remotas
Que descansam mudas pelo dia
E gritam forte ao irem-se as gaivotas.

E os lábios meus pedem pelos teus,
O teu calor, o meu corpo implora,
Meu exílio entrego-o a Morfeu...

Saudade que, o meu peito, deflora...
E, a ter-te uma vez mais, embriago-me eu,
Deste desejo que o luar aflora!

Sonya Azevedo

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